“O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica”
Abdias do Nascimento
De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, 97% das/os brasileiras/os não se consideram racistas, mas 91% acredita que exista preconceito de cor no país. Então, onde está o racismo que as pessoas sabem que existe, mas não assumem responsabilidade?
As formas de racismo e discriminação racial estão presentes no nosso cotidiano de diversas formas algumas mais sutis, outras menos. Apenas neste segundo semestre de 2017, que ainda não terminou, algumas situações ganharam os holofotes na mídia:
· Um apresentador de telejornal, de uma das mais importantes emissoras do País, está sendo acusado de caracterizar uma situação desagradável como sendo “coisa de preto”;
· Na apresentação da banda britânica Coldplay em São Paulo, em meio a um alvoroço com diversas pessoas, um homem negro foi o escolhido para ser ameaçado e retirado do show;
· Terreiros de religião de matriz africana são destruídos;
· “Black is Beautiful”, conceito chave de um importante movimento cultural para empoderamento da estética negra, é reduzido à publicidade de papel higiênico;
· Os casos de atos racistas nos estádios de futebol e na internet cresce 64% em 2017 segundo dados do Observatório da Discriminação Racial do Futebol Brasileiro;
· Deputado Federal ofende indivíduos pertencentes a comunidades quilombolas;
· Na São Paulo Fashion Week, principal semana de Moda do País, jovem negro é barrado pelo segurança, mesmo sendo dono de uma marca que desfilaria no evento;
· Após relatar dor e sofrimento em rede social, estudante negra comete suicídio.
É importante reforçar que as situações que alcançaram a mídia não são a exceção, elas são a regra: 91% da população acredita que exista preconceito racial no país, 3% assume-se enquanto racista. Negar o racismo, não resolve o problema. Os dados estatísticos e as notícias mostram o quanto a população negra é colocada em situações de sofrimento por conta de um racismo ora velado, ora explícito, mas sempre presente.
Além do indivíduo, é essencial que o Estado se responsabilize por seu quinhão neste quadro, uma vez que:
- Participou da destituição das condições de desenvolvimento social e econômico dessa população;
- Difundiu sistematicamente outra história do seu nascimento enquanto Nação, apagando todas as contribuições da população afrodescente na construção deste País;
- Autoriza o genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica; o confinamento geográfico e espacial desta população nas periferias; o desemprego e a falta de condições de subsistências e o adoecimento pleno desta população.
O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo apoia o dia 20 de Novembro como data importante no calendário nacional para refletir sobre a inserção da pessoa negra na sociedade brasileira. Acreditamos que, quandoestamos conscientes, podemos unir forças em torno da causa antirracista e promover uma sociedade que não oprima racialmente, nem cause sofrimento ao outro pela cor de sua pele.
