O CRP SP reafirma o compromisso com a causa indígena e apoia sua luta pela demarcação e permanência nas terras originárias. Reconhece a necessidade de reparação histórica da sociedade pelo sofrimento psíquico que foi imposto aos povos tradicionais, pela exposição a todo tipo de violência de que foram vítimas, de maneira que se mantenham resistentes, expressando sua cultura e tradições, ainda hoje ameaçadas.
A invasão das terras brasileiras se deu há 517 anos, manchando o solo de sangue, e até hoje vemos pronunciamentos de ódio de representantes e/ou descendentes dos usurpadores que ocuparam essas terras, se contrapondo aos direitos dos indígenas e dos quilombolas, conquistados desde a Constituição Federal de 1988.
A ganância que impera em setores poderosos da sociedade brasileira tem resultado na exploração, a qualquer custo, dos recursos naturais, minerais e hídricos do nosso território, implicando criminosamente no extermínio dos povos tradicionais que o habitam desde sempre. Não seremos capazes de reverter esse panorama para um modelo de convivência pacífica e desenvolvimento sustentável? Quando conseguiremos valorizar a riqueza da nossa diversidade étnica e nos colocar no lugar do outro, reconhecendo suas peculiaridades, belezas e vulnerabilidades?
O indígena tem sido relegado à invisibilidade. Socialmente ainda é reiterada a representação de uma figura bucólica, que anda nua na floresta e não poderia ter celular ou andar de tênis sem ‘deixar de ser índio’. A discussão sobre o tema nos é negada nos bancos escolares e os indígenas são colocados por muitos como indivíduos primitivos que precisam da tutela do Estado.
Lembremos, o ventre da América Latina é indígena. Muitos brasileiros não conhecem a sua origem, desconhecem que são descendentes e têm raízes indígenas.
No imaginário social da sociedade capitalista existe a ideia de que ‘índio é vagabundo e não gosta de trabalhar’. Neste discurso estaria implícita a ideia de que o índio não produz, e por isso, pode ser descartado pelo sistema ou absorvido por ele.
Ledo engano, nosso povo é resistente e luta! Luta para afirmar seus distintos modos de vida, expressos de diferentes formas, entre elas no culto à sua ancestralidade, à sua espiritualidade e suas tradições. O respeito à natureza e toda a sua cosmovisão.
Devemos respeito aos povos que habitavam essas terras antes da invasão, é necessário fazer uma reparação histórica em relação a toda humilhação, expropriação de territórios e perda de tantas vidas. Hoje a ocupação dos espaços – territoriais e políticos – segue em permanente disputa e os povos tradicionais continuam sofrendo discriminações, relegados à marginalidade e exclusão. Devemos ter consciência do sofrimento psíquico causado quando é negado a um povo viver de acordo com sua tradição e cultura, sendo expulso de seu local de origem, causando problemas geracionais e rupturas muitas vezes irrecuperáveis.
Valorizando a resistência indígena, que persiste a despeito de tanta adversidade, encaminhamos para conhecimento e apoio um manifesto da Aldeia Paranapuã, localizada em São Vicente. Nesse abaixo assinado, o qual o CRP SP subscreve, os Guarani M’byá reafirmam seu direito constitucional à demarcação das terras que ocupam e a viverem de modo tradicional. O documento será encaminhado a representantes do governo municipal e federal.
