JORNAL PSI / 08/04/2016

Ciência e profissão: Os desafios da psico-oncologia
Elisa Maria Perina foi uma das primeiras psicólogas a trabalhar na área de oncologia pediátrica. Quando começou, há 26 anos, era uma das raras profissionais nesse campo, no Brasil. Ao longo desse período, ocorreram alguns avanços. O número de psicólogos trabalhando nesse segmento, ainda que modestamente, cresceu; a atuação do psicólogo na oncologia ganhou reconhecimento na área da Saúde e a produção de conhecimentos específi cos foi ampliada. Na esteira dessa evolução criaram-se entidades de psicólogos direcionadas para o segmento, entre elas a Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO), que Elisa presidiu de 2006 a 2008. Os desafi os dos psicólogos que atuam no atendimento a pacientes com câncer, contudo, continuam enormes.
 
"O câncer deixou de ser uma sentença de morte, como no passado", diz Elisa, que é psicóloga do Centro Integrado de Pesquisas Onco-hematológicas da Infância (Cipoi), da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e que atua na assistência à crianca e ao adolescente com câncer no Centro Infantil Boldrini, em Campinas (SP). Segundo ela, a evolução, nos tratamentos, trouxe perspectivas concretas de cura em uma série de casos mas não impediu que, dentro da própria Medicina, se consolidasse a visão de que a cura física, por si só, não era sufi ciente. "Hoje se reconhece a necessidade e a importância de um acompanhamento psicossocial, capaz de dar suporte tanto ao paciente como à sua família", aponta Elisa.
 
A partir de 1998, pela portaria nº 3.535 do Ministério da Saúde, a presença de profi ssionais especialistas em Psicologia Clínica no Serviço de Suporte passou a ser um dos critérios para cadastramento de centros de referência em oncologia junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Elisa, a portaria foi um passo importante no sentido de ampliar o espaço de trabalho para os psicólogos na área da oncologia, mas ainda não é o bastante para garantir a oferta de um atendimento qualificado.
 
"Infelizmente ainda há hospitais que não cumprem essa exigência. Há necessidade de maior vigilância por parte dos órgãos representativos de classe e do próprio governo para assegurar a presença do psicólogo nas unidades de oncologia", afi rma Elisa. "É importante ressaltar que não somente nos serviços cadastrados como referência, mas em todas as unidades de tratamento oncológico, como quimioterapia, radioterapia, procedimentos invasivos ou cirúrgicos, bem como ambulatórios, hospitais e clínicas oncológicas, a presença do psicólogo é fundamental para lidar com o sofrimento emocional decorrente de situações de doença ameaçadora à vida".
 
A psicóloga Nely Nucci, que há 12 anos atua no Centro de Atendimento Integral em Oncologia do Hospital Mário Gatti, em Campinas, estima que o número de psicólogos especializados em oncologia ainda não chega a 200 em todo o país. E fala da importância de se oferecer um atendimento integral, com base em equipes multiprofi ssionais, de modo a garantir um serviço realmente efetivo aos pacientes e suas famílias.
 
"Só na área de radioterapia do Mário Gatti, são atendidos em torno de 80 pacientes por dia", diz Nely. "Sem um trabalho conjunto, com médicos, enfermeiros, assistentes sociais e todos os demais envolvidos nesse processo, não seria possível favorecer o respeito e a qualidade de vida de tantos pacientes e daqueles que se encontram ao seu redor", diz. As ações da psico-oncologia visam a garantir três aspectos principais: a integralidade da assistência, a qualidade de vida e a dignidade da morte. Em torno desses eixos e da variedade de situações que precisam ser enfrentadas no dia-a-dia vem ocorrendo um importante acúmulo de conhecimento. Hoje é possível encontrar estudos que perpassam por temas tão diversos como o suporte psicológico pré-radioterapia, os irmãos das crianças com câncer ou as relações afetivas e sexuais do casal cuja mulher é mastectomizada. Uma das preocupações dos profi ssionais de psico-oncologia é com a disseminação desse conhecimento entre os psicólogos que começam a atuar na área.
 
A LIBERDADE E SUAS AMEAÇAS
 
Maria (nome fictício) nasceu com um retinoblastoma, herdado da mãe. Por conta da doença, a menina passou por um processo de quimioterapia e recebeu uma prótese no olho direito. Ao chegar à adolescência, em virtude da imagem corporal comprometida, mostrava-se introvertida, isolada e com grande dificuldade nos contatos sociais. Procurou ajuda psicoterápica na Clinica do Centro Infantil Boldrini. Lá fez o desenho de uma borboleta com o título “a liberdade e suas ameaças”, representando a cura e a possibilidade de viver mas, ao mesmo tempo, o enorme medo da vida, da rejeição dos outros, da ameaça da doença voltar, das incertezas do futuro.
 
Com a psicoterapia, Maria conseguiu superar essa etapa. Aos 26 anos está casada e tem uma filha de 8 anos. Mas o filho mais novo, com menos de um ano, também foi diagnosticado com a doença da mãe.
 
Para Elisa Perina, o caso de Maria é significativo em mais de um sentido. “Quando foi afetada pela doença – e por ser uma criança ainda muito pequena – o atendimento psicológico se concentrou na mãe”, diz. Esse caso, segundo ela, deixa clara a necessidade de se acompanhar a própria criança e o seu desenvolvimento. Hoje a instiutuição busca acompanhar os pacientes durante um período de três anos após o término da terapia, mantendo retorno com a equipe multiprofi ssional, para avaliação e seguimento do desenvolvimento global do paciente. Dessa forma, os efeitos tardios são monitorados e medidas preventivas são propostas para preservar a qualidade de vida após a alta. Segundo Elisa, casos desse tipo, que envolvem riscos de origem genética, também deixam clara a necessidade de aconselhamento em questões relacionadas à maternidade.
 
Reportagem publicada no Jornal Psi nº 161




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