Quem historicamente deveria se submeter e continuar banido, sentenciado à invisibilidade, não está mais de acordo com essa condição. Existe uma força política nessa ação, que vai além da barbárie e agora é parte do descompasso entre promessas de mudanças para um mundo mais justo, com melhores oportunidades e distribuição de recursos, não apenas em políticas públicas, mas em ações do cotidiano que clamam por reconhecimento e pertencimento. Reconhecimento para a existência. Pertencimento ao território. Reconhecimento das suas singularidades, de seus símbolos, de sua forma de produzir afetos. Pertencimento aos lugares que lhe são próprios, mas que extrapolam o permitido. A ambiguidade é porque os corpos não se conformam mais com a exclusão, mas buscam os espaços que não foram feitos para recebê-los, como possibilidade de inclusão. A violência policial não é uma exceção aqui ou ali, mas um modus operandi do Estado para o genocídio da população negra, especialmente a da periferia. .
Nós, como psicólogas e psicólogos, precisamos apostar numa realidade de fato mais justa, livre e igualitária. Somente com uma Psicologia crítica e comprometida, com posicionamentos antirracistas e inclusivos, poderemos superar os mecanismos de alienação que afetam a todos enquanto coletividade.
Esperamos que os coletivos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil comprometidos com os Direitos Humanos se fortaleçam e cresçam, pois isso é uma clara demonstração de saúde mental. Aquele que luta e reivindica uma vida diferente tende a uma maior satisfação, uma melhor saúde exatamente por que toda luta por reconhecimento é emancipatória. Uma sociedade sem racismo é possível!
XIV Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Março/2015